O posicionamento moral da Alemanha

_59265080_luther2_getty
Ainda muito recentemente, no seio da Europa, a Alemanha agiu de uma forma que muitos consideraram abusiva, utilizando a sua posição hegemónica para manter benefícios próprios e prejudicando um povo inteiro. Falo obviamente da crise grega e de uma conduta germânica representada pelo austero Schäuble.
Mas nos últimos tempos a questão grega perdeu o prime-time e chegou a crise dos migrantes. Mais uma vez a Alemanha apareceu em destaque, mas agora, afinal, como sendo o último bastião da solidariedade (cheguei até a ver mensagens de boas-vindas aos refugiados escritas por claques de futebol).
Será a coexistência destes comportamentos absurda e contraditória, somente compreensível como uma política de gestão de imagem (“não somos desumanos, vejam lá o altruísmo de que somos capazes”)? Ou haverá algum sistema moral onde tudo se encaixe? Não tenho resposta para isso, mas com a Alemanha devemos esperar comportamentos alicerçados numa substância. Uma possibilidade é a de que Merkel se guie por uma lógica luterana, fiel aos mercados sendo ao mesmo tempo profundamente cristã (os gregos, no fundo, viram-se ajudados pelos alemães a aproximarem-se da salvação da sua alma através da penúria, pagamento dos seus pecados). Não esqueçamos que a chanceler é filha dum pastor luterano e estas coisas da infância vão ribombando praticamente até à cova.
Por esta via estamos, ao menos, ainda longe do paganismo nazi. Resta só saber até onde estão os alemães dispostos a ir com Merkel.

Leave a comment